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Fernanda Silva lĂȘ "As Mulheres e a Guerra Colonial", de Sofia Branco

  • Paulo Jorge Pereira
  • Apr 10, 2021
  • 5 min read

Um trecho de "As Mulheres e a Guerra Colonial", obra escrita pela jornalista Sofia Branco, Presidente do Sindicato dos Jornalistas, Ă© a proposta hoje apresentada por Fernanda Silva.



A guerra colonial dizimou milhares de vidas, destruiu famĂ­lias, casas e lugares, estropiou soldados e civis, deixou chagas psicolĂłgicas feitas stress pĂłs-traumĂĄtico que ainda hoje multiplicam vĂ­timas sob a forma de violĂȘncia domĂ©stica e outras formas de violĂȘncia. Ao longo de 13 anos, entre 1961 e 1974, milhares de soldados combateram, sofreram, viram horrores, mataram para nĂŁo morrer, massacraram, cometeram atrocidades, foram presos, torturados, prenderam e torturaram. E as mulheres? O que lhes aconteceu ao longo desse tempo? Como sobreviveram e lidaram com uma sĂ©rie de diferentes papĂ©is? Sofia Branco investiou e procurou respostas para estas e muitas outras perguntas, daqui nascendo "As Mulheres e a Guerra Colonial", de que hoje aqui Ă© apresentado um excerto pela voz de Fernanda Silva. HĂĄ 49 histĂłrias contadas que nos fazem revisitar aquele paĂ­s que parece tĂŁo distante e estĂŁo sempre aconchegadas por poemas vindos das mĂșsicas de cantautores como JosĂ© Afonso, JosĂ© MĂĄrio Branco, Adriano Correia de Oliveira, SĂ©rgio Godinho, entre outros. As histĂłrias ilustram exemplos diferentes, falam de dias de dĂșvida, de dor e sofrimento, de constante incerteza e, tantas vezes, finais infelizes. Mas tambĂ©m de coragem exemplar e de situaçÔes desconhecidas para tantos que ainda hoje mal conseguem perceber uma Ă­nfima parte do que se passou naqueles anos de ditadura, a longa noite fascista.

Outro exemplo da qualidade do trabalho de Sofia Branco foi lançado em 2006. O livro "Cicatrizes de Mulher" conta histĂłrias de mulheres que foram submetidas a mutilação genital, tendo por base casos como os de Mariama, Tchambu e CĂąndida, testemunhos recolhidos em bairros com predominĂąncia das comunidades africanas em Portugal, na GuinĂ©-Bissau e ainda em vĂĄrios paĂ­ses europeus. Pela dimensĂŁo humanista e pela importĂąncia fundamental de abordar um fenĂłmeno que continua a ser responsĂĄvel por mortes e danos irreparĂĄveis para muitas mulheres - ainda agora, no primeiro julgamento sobre a prĂĄtica em Portugal, foi condenada a trĂȘs anos de prisĂŁo e ao pagamento de 10 mil euros, uma mulher que permitiu a mutilação da prĂłpria filha com ano e meio -, a obra de investigação de Sofia Branco, entĂŁo jornalista do PĂșblico e hoje na agĂȘncia Lusa, recebeu seis prĂ©mios na ĂĄrea dos Direitos Humanos, como o Natali Europe, da ComissĂŁo Europeia e da Federação Internacional de Jornalistas, mas tambĂ©m a Medalha de Ouro da Assembleia da RepĂșblica. A obra foi apresentada na Feira do Livro, no inĂ­cio de junho de 2006 e, cerca de um mĂȘs mais tarde, quando teve apresentação na GuinĂ©-Bissau, um dos 30 dos 54 paĂ­ses africanos onde a prĂĄtica era corrente, a autora afirmou, citada pela comunicação social: "Tenho muito respeito pela tradição, mas o corte Ă© desnecessĂĄrio. Morrem mulheres por causa do parto que nĂŁo se consegue concluir, morrem meninas com infecçÔes. É necessĂĄria uma vasta campanha de sensibilização, a todos os nĂ­veis, para acabar com esta prĂĄtica nefasta."

AlĂ©m do trabalho empenhado no dia a dia como jornalista, Sofia Branco foi eleita Presidente do Sindicato dos Jornalistas em 2016 e reeleita em 2019, sempre com elencos diretivos paritĂĄrios, desenvolvendo em conjunto com os companheiros da direção um trabalho profundo em defesa do Jornalismo e da profissĂŁo. Num contexto de enormes dificuldades, marcado por constantes despedimentos, precarização e ataques da mais variada Ă­ndole aos jornalistas, Sofia Branco foi uma voz inquieta que nunca se escondeu, estando na primeira linha dos mais duros combates e reivindicando sempre mais e melhor para os profissionais do setor. Sob a sua liderança houve espĂ­rito de cooperação entre diferentes representaçÔes de jornalistas e, quase duas dĂ©cadas depois da anterior edição, em 2017, durante quatro dias, realizou-se o 4.Âș Congresso da classe, onde foi possĂ­vel debater diferentes temĂĄticas e dar oportunidade a jovens estudantes de terem uma oportunidade de treinar a prĂĄtica profissional numa experiĂȘncia de redação laboratĂłrio que incluiu entrevistar o chefe de Estado. Mais recente, de dezembro de 2019, Ă© a conferĂȘncia sobre financiamento dos media, um tema bem dentro da atualidade e da delicada situação que as empresas enfrentam, na qual participou tambĂ©m o Presidente da RepĂșblica. Outro projeto que muito exigiu e estĂĄ a dar frutos Ă© o da literacia para os media, cada vez mais uma forma de aproximação a professores, alunos e Ă  sociedade em geral, no sentido de que compreendam e interpretem melhor o papel do jornalista.

Mas, para lĂĄ da montanha de trabalho desenvolvido em Portugal nas mais variadas frentes, de cursos a palestras, passando por dar aulas de Ética, Sofia Branco destacou-se por ter igualmente presença e voz dinĂąmica no plano internacional. NĂŁo sĂł abriu caminho Ă  inĂ©dita eleição do presidente do Sindicato dos Jornalistas para o ComitĂ© Executivo da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), em junho de 2019, como foi tambĂ©m eleita para o Conselho de GĂ©nero da entidade. AlĂ©m disso, devido ao seu intenso trabalho, Lisboa acolheu, pela primeira vez, a assembleia anual da Federação Europeia de Jornalistas em junho de 2018, na qual foram aprovadas por unanimidade as moçÔes sobre precariedade, violĂȘncia contra jornalistas no desporto e desigualdades de gĂ©nero apresentadas pelo Sindicato dos Jornalistas.

Nascida na Póvoa de Varzim, estudante universitåria em Coimbra, Sofia Branco é jornalista hå mais de duas décadas, tendo realizado estudos em diferentes especialidades (islamismo, igualdade de género, mestrado em Direitos Humanos). Além das obras "As Mulheres na Guerra Colonial" e "Cicatrizes de Mulher" acima referidas, Sofia Branco coordenou, com Anabela Natårio e Isabel Nery, a antologia "Tudo por Uma Boa História" (2017).


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Esfera dos Livros


Jornalista indomĂĄvel e infatigĂĄvel Presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco tem variada obra escrita pela defesa dos Direitos Humanos, seja em livro ou em artigos.

Fernanda Silva tem participação regular aqui no blog. Tudo começou com "O Universo num GrĂŁo de Areia", de Mia Couto, a 28 de abril, seguindo-se "A Vida Sonhada das Boas Esposas", de PossidĂłnio Cachapa (11 de maio), "Uma Mentira Mil Vezes Repetida", de Manuel Jorge Marmelo (8 de junho), "Bom Dia, Camaradas", de Ondjaki (27 de junho), "Quem me Dera Ser Onda", de Manuel Rui (5 de julho), e "O Sol e o Menino dos PĂ©s Frios" (16 de julho), de Matilde Rosa AraĂșjo. No passado dia 8 de outubro voltou com "O Tecido de Outono", de AntĂłnio Alçada Baptista e, a 27, leu "HistĂłrias que me Contaste Tu", de Manuel AntĂłnio Pina, seguindo-se "Imagias", de Ana LuĂ­sa Amaral, a 12 de novembro, e "Os MemorĂĄveis", de LĂ­dia Jorge, apresentado no passado dia 16. A 23 de novembro, Fernanda Silva leu um trecho do livro "Do Grande e do Pequeno Amor", de InĂȘs Pedrosa e Jorge Colombo. A 5 de dezembro apresentou "O Cavaleiro da Dinamarca", de Sophia de Mello Breyner Andresen e a 28 do mesmo mĂȘs fez a Ășltima leitura de 2020: "Na Passagem de um Ano", de JosĂ© Carlos Ary dos Santos. A 10 de janeiro apresentou a sua primeira leitura de 2021 com "Cicatrizes de Mulher", de Sofia Branco, no dia 31 desse mĂȘs leu um trecho de "Mar me Quer", escrito por Mia Couto, e a 14 de fevereiro apresentou "Rodopio", de MĂĄrio Zambujal. A 28 de fevereiro foi a vez de ler um trecho do livro "A Instalação do Medo", de Rui Zink. No passado dia 8, foi possĂ­vel "ouvĂȘ-la" no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher, lendo um excerto da histĂłria "As Facas de Nima", escrito por Sofia Branco e parte do livro "52 HistĂłrias". A 13 de março apresentou "Abraço", de JosĂ© LuĂ­s Peixoto. No dia 24, foi a vez de ler "Cadernos de Lanzarote", de JosĂ© Saramago. Ontem, a sua leitura de um excerto da obra "O Marinheiro", de Fernando Pessoa, integrou o Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro. A 28 de março leu um pouco do livro "Uma Viagem no Verde", de JosĂ© Jorge Letria.

 
 
 

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