No Dia Internacional da Mulher, aqui se apresentam leituras de Fernanda Silva, Inês Henriques e Sandra Escudeiro feitas de propósito para assinalar esta data. No primeiro caso, Fernanda Silva lê um excerto do projeto "52 Histórias": "As Facas de Nima", escrito por Sofia Branco.
As "52 Histórias" deste livro ilustrado, apresentado em novembro de 2010, são uma espécie de agenda com 52 semanas pelas quais desfilam episódios e personagens reais de trabalhos jornalísticos que relatam casos de Direitos Humanos e da sua violação. A que aqui se "ouvê" graças a Fernanda Silva é uma história escrita por Sofia Branco que, no livro, também entrevista um ativista liberiano, Silas, de quem Fernando Alves refere na apresentação que, "sem a sua persistência, Charles Taylor não teria sido julgado".
Além do trabalho empenhado no dia a dia como jornalista, Sofia Branco foi eleita Presidente do Sindicato dos Jornalistas em 2016 e reeleita em 2019, sempre com elencos diretivos paritários, desenvolvendo em conjunto com os companheiros da direção um trabalho profundo em defesa do Jornalismo e da profissão. Num contexto de enormes dificuldades, marcado por constantes despedimentos, precarização e ataques da mais variada índole aos jornalistas, Sofia Branco foi uma voz inquieta que nunca se escondeu, estando na primeira linha dos mais duros combates e reivindicando sempre mais e melhor para os profissionais do setor. Sob a sua liderança houve espírito de cooperação entre diferentes representações de jornalistas e, quase duas décadas depois da anterior edição, em 2017, durante quatro dias, realizou-se o 4.º Congresso da classe, onde foi possível debater diferentes temáticas e dar oportunidade a jovens estudantes de terem uma oportunidade de treinar a prática profissional numa experiência de redação laboratório que incluiu entrevistar o chefe de Estado. Mais recente, de dezembro de 2019, é a conferência sobre financiamento dos media, um tema bem dentro da atualidade e da delicada situação que as empresas enfrentam, na qual participou também o Presidente da República. Outro projeto que muito exigiu e está a dar frutos é o da literacia para os media, cada vez mais uma forma de aproximação a professores, alunos e à sociedade em geral, no sentido de que compreendam e interpretem melhor o papel do jornalista.
Mas, para lá da montanha de trabalho desenvolvido em Portugal nas mais variadas frentes, de cursos a palestras, passando por dar aulas de Ética, Sofia Branco destacou-se por ter igualmente presença e voz dinâmica no plano internacional. Não só abriu caminho à inédita eleição do presidente do Sindicato dos Jornalistas para o Comité Executivo da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), em junho de 2019, como foi também eleita para o Conselho de Género da entidade. Além disso, devido ao seu intenso trabalho, Lisboa acolheu, pela primeira vez, a assembleia anual da Federação Europeia de Jornalistas em junho de 2018, na qual foram aprovadas por unanimidade as moções sobre precariedade, violência contra jornalistas no desporto e desigualdades de género apresentadas pelo Sindicato dos Jornalistas.
Nascida na Póvoa de Varzim, estudante universitária em Coimbra, Sofia Branco é jornalista há mais de duas décadas, tendo realizado estudos em diferentes especialidades (islamismo, igualdade de género, mestrado em Direitos Humanos).
O trabalho de Sofia Branco já aqui foi apresentado por Fernanda Silva a 10 de janeiro quando leu um excerto de "Cicatrizes de Mulher". Lançado em 2006, o livro "Cicatrizes de Mulher" conta histórias de mulheres que foram submetidas a mutilação genital, tendo por base casos como os de Mariama, Tchambu e Cândida, testemunhos recolhidos em bairros com predominância das comunidades africanas em Portugal, na Guiné-Bissau e ainda em vários países europeus. Pela dimensão humanista e pela importância fundamental de abordar um fenómeno que continua a ser responsável por mortes e danos irreparáveis para muitas mulheres - ainda agora, no primeiro julgamento sobre a prática em Portugal, foi condenada a três anos de prisão e ao pagamento de 10 mil euros, uma mulher que permitiu a mutilação da própria filha com ano e meio -, a obra de investigação de Sofia Branco, então jornalista do Público e hoje na agência Lusa, recebeu seis prémios na área dos Direitos Humanos, como o Natali Europe, da Comissão Europeia e da Federação Internacional de Jornalistas, mas também a Medalha de Ouro da Assembleia da República. O livro foi apresentado na Feira do Livro, no início de junho de 2006 e, cerca de um mês mais tarde, quando teve apresentação na Guiné-Bissau, um dos 30 dos 54 países africanos onde a prática era corrente, a autora afirmou, citada pela comunicação social: "Tenho muito respeito pela tradição, mas o corte é desnecessário. Morrem mulheres por causa do parto que não se consegue concluir, morrem meninas com infecções. É necessária uma vasta campanha de sensibilização, a todos os níveis, para acabar com esta prática nefasta.
"Publicou também "As Mulheres e a Guerra Colonial" (2015) e coordenou, com Anabela Natário e Isabel Nery, a antologia "Tudo por Uma Boa História" (2017).
Edição da Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP)
Sobre esta agenda feita com histórias de gente extraordinária contada por gente não menos extraordinária, o jornalista Fernando Alves (TSF) escreveu: "São as perguntas estranhas, nascidas da arte do olhar, que recolhem estas formidáveis histórias e as espalham pelos dias numerosos de uma agenda perpétua, quero dizer perene, que resiste à efémera cintilação de outras luzes."
Fernanda Silva tem participação regular aqui no blog. Tudo começou com "O Universo num Grão de Areia", de Mia Couto, a 28 de abril, seguindo-se "A Vida Sonhada das Boas Esposas", de Possidónio Cachapa (11 de maio), "Uma Mentira Mil Vezes Repetida", de Manuel Jorge Marmelo (8 de junho), "Bom Dia, Camaradas", de Ondjaki (27 de junho), "Quem me Dera Ser Onda", de Manuel Rui (5 de julho), e "O Sol e o Menino dos Pés Frios" (16 de julho), de Matilde Rosa Araújo. No passado dia 8 de outubro voltou com "O Tecido de Outono", de António Alçada Baptista e, a 27, leu "Histórias que me Contaste Tu", de Manuel António Pina, seguindo-se "Imagias", de Ana Luísa Amaral, a 12 de novembro, e "Os Memoráveis", de Lídia Jorge, apresentado no passado dia 16. A 23 de novembro, Fernanda Silva leu um trecho do livro "Do Grande e do Pequeno Amor", de Inês Pedrosa e Jorge Colombo. A 5 de dezembro apresentou "O Cavaleiro da Dinamarca", de Sophia de Mello Breyner Andresen e a 28 do mesmo mês fez a última leitura de 2020: "Na Passagem de um Ano", de José Carlos Ary dos Santos. A 10 de janeiro apresentou a sua primeira leitura de 2021 com "Cicatrizes de Mulher", de Sofia Branco, no dia 31 desse mês leu um trecho de "Mar me Quer", escrito por Mia Couto, e a 14 de fevereiro apresentou "Rodopio", de Mário Zambujal. A 28 de fevereiro foi a vez de ler um trecho do livro "A Instalação do Medo", de Rui Zink.
No Dia Internacional da Mulher, aqui se apresentam leituras de Fernanda Silva, Inês Henriques e Sandra Escudeiro feitas de propósito para assinalar esta data. No segundo caso, Inês Henriques lê um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia.
Carismática figura da Cultura, jornalista, escritora de poesia, ficção e teatro, ensaísta, declamadora de alto nível, divulgadora de Literatura, tradutora, deputada no Parlamento por dois partidos (PPD/SD e PRD) e apresentadora de programas televisivos (o mais famoso seria o Mátria), Natália de Oliveira Correia foi uma espécie de força da natureza, nasceu na Fajã de Baixo, em Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, a 13 de setembro de 1923. Como o pai foi para o Brasil, Natália, a mãe e uma irmã vieram para Lisboa quando a futura escritora tinha apenas 11 anos. "Aventuras de um Pequeno Herói" (1945), um livro para os mais jovens, seria a sua estreia na ficção. Casara-se pela primeira vez em 1942 com Álvaro Santos Pereira, mas a relação acabou por não dar certo e, em 1949, casou-se pela segunda vez com William Creighton Hyler. Este casamento durou ainda menos tempo e, a 31 de julho de 1953, já o seu marido era Alfredo Machado, um empresário oriundo da Guarda e dono do Hotel do Império, projetado na rua Rodrigues Sampaio, em Lisboa, pelo arquiteto Cassiano Branco.
Jornalista no Rádio Clube Português, a sua oposição à ditadura de Salazar manifestou-se bem cedo com a participação em movimentos como o MUD, mas também com o apoio às candidaturas à Presidência de Norton de Matos (1949) e do general Humberto Delgado (1958) ou ainda à CEUD (1969), pelo que a PIDE manteve-a sempre debaixo de olho. O seu ativismo político e o combate que sempre travou contra a opressão e o conservadorismo iriam ganhar uma nova dimensão quando, em 1966, foi condenada a prisão com pena suspensa por causa da sua "Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" (mais tarde organizaria outras antologias poéticas como a dos "Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses" ou a "Antologia da Poesia do Período Barroco"), depois de ter sido também penalizada pelo papel desempenhado no apoio à edição das "Novas Cartas Portuguesas" - era diretora literária nos Estúdios Cor, responsável pela primeira edição -, no processo que ficou conhecido como o das "três Marias", autoras da obra: Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A história foi recordada na série de ficção "3 Mulheres", que a RTP filmou em 2018, dedicada a Natália Correia, Snu Abecassis e Maria Alexandra Falcão, cujo pseudónimo foi Vera Lagoa, nos seus percursos de vida entre 1961 e 1973.
Um espírito livre, desassombrado, intransigente defensora do feminismo, em 1971 abriu o bar Botequim, no qual era figura central em intervenções de âmbito cultural e tertúlias em que se reuniam personalidades da Cultura, mas também da política.
Depois do 25 de Abril, a sua intervenção em nome da Cultura e do feminismo prosseguiu de forma incansável e, no plano político, situou-se próxima do PS. Numa fase de crise no PPD-PSD em que diversos militantes se afastaram e Sá Carneiro regressou, Natália Correia, que lhe apresentara a sua editora, Snu Abecassis, por quem o então líder dos sociais-democratas se apaixonou, acabou influenciada por aquela história de amor e apoiou Sá Carneiro, sendo eleita deputada pelo seu partido entre 1979 e 1983. É famosa a réplica que deu a João Morgado, então deputado no CDS, quando este defendeu no plenário da Assembleia da República, a 3 de abril de 1982, em pleno debate sobre a despenalização do aborto, que "o ato sexual é para ter filhos". Natália Correia nem hesitou e a sua resposta surgiu sob a forma do seguinte poema:
Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado. Interessava-lhe menos a política do que a Cultura e, cansada do conservadorismo em diversos setores dos sociais-democratas, acabou por afastar-se do partido, mesmo que se mantivesse como deputada independente, sendo com este estatuto reeleita para a Assembleia da República nas listas do PRD entre 1987 e 1991. Entretanto, viúva desde a morte do marido, a 17 de fevereiro de 1989, iria ainda casar-se uma quarta vez, em 1990, com Dórdio Guimarães, jornalista, escritor, cineasta e filho do também realizador Manuel Guimarães.
Ao longo dos anos, escreveu e publicou dezenas de obras nos diversos géneros em que se distinguiu, vendo o seu trabalho várias vezes visado pela Censura. Na poesia incluem-se, por exemplo, "Rio de Nuvens" (1947), "Cântico do País Emerso" (1961), "Mátria" (1967), "O Vinho e a Lira" (1969), "A Mosca Iluminda" (1972), "Poemas a Rebate" (1975), "O Dilúvio e a Pomba" (1979) ou "Sonetos Românticos" (1990). Numa entrevista a propósito do lançamento deste livro, quando o entrevistador dizia que não era lida pelo grande público, Natália não o deixou completar a frase e disparou: "Como é que você sabe? Fez inquéritos? Se calhar sou mais lida pelo povo do que pelos falsos intelectuais." Na ficção, "Anoiteceu no Bairro" (1946), "A Madona" (1968), "A Ilha de Circe" (1983), de que aqui é apresentado um excerto, contos com "Onde Está o Menino Jesus?" (1987) e ainda o romance "As Núpcias" (1992); na literatura de viagens, "Descobri que era Europeia: As Impressões de uma Viagem à América" (1951); no ensaio, "Poesia de Arte e Realismo Poético" (1959) ou "Somos Todos Hispanos" (1988); na dramaturgia, "O Homúnculo" (1965) ou "Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente" (1981).
Certa noite, a 16 de março de 1993, de regresso a casa vinda do Botequim, no Largo da Graça, Natália Correia foi traída pelo coração. Morria, a meses de completar 70 anos, uma das mais notáveis vozes do Portugal contemporâneo. Mas a sua obra e os seus ideais perduram.
Editorial Notícias
Indomável, insubmissa, desafiadora de convenções e estereótipos, Natália Correia é não apenas um nome grande da Literatura, mas em simultâneo uma voz eterna em defesa dos direitos das mulheres e contra o patriarcado.
Inês Henriques tem presença regular e já está na casa das dezenas em participações aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo.
No Dia Internacional da Mulher, aqui se apresentam leituras de Fernanda Silva, Inês Henriques e Sandra Escudeiro feitas de propósito para assinalar esta data. No terceiro caso, Sandra Escudeiro lê "Insubmissão", de Maria Teresa Horta.
Jornalista e escritora multipremiada, o nome de Maria Teresa Horta estará para sempre associado à obra "Novas Cartas Portuguesas", escrita em conjunto com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Tratou-se de um ato de coragem inexcedível das autoras, decidido num encontro das três em maio de 1971. Além de vozes da renovação da Literatura portuguesa, foram porta-vozes da rebeldia, do inconformismo com a condição feminina, da reivindicação de direitos para as mulheres, da denúncia da emigração, da guerra colonial e da luta antifascista. Escrever aquela marcante obra valeu às três mulheres um processo que só seria suspenso após a Revolução do 25 de Abril, apesar da enorme onda de solidariedade que se gerou, no plano nacional mas também além-fronteiras, em redor das três escritoras. Mas antes do grito de revolta feito livro já a autora publicara várias obras.
Com ascendência nobre do lado da mãe (Carlota Maria Mascarenhas era neta do 9.º Marquês de Fronteira, numa família com laços de ligação à Marquesa de Alorna, personalidade marcante na História da Cultura e da poesia em Portugal) e um pai, Jorge Silva Horta, que foi bastonário da Ordem dos Médicos, Maria Teresa Horta nasceu a 20 de maio de 1937 em Lisboa. Todo o seu percurso é, desde bem jovem, marcado pelos livros (a avó paterna lia-lhe as primeiras histórias, adorava o cheiro a livros no escritório do pai, aprendeu a ler com cinco anos, aos 12 já escrevia poesia), mas também pela oposição ao fascismo, à ditadura salazarista, à opressão, em defesa do feminismo e dos direitos das mulheres, entre os estudos no Liceu D. Filipa de Lencastre e na Faculdade de Letras de Lisboa. "Fui uma menina voadora por dentro da vida e dos livros. Tentando seguir as pegadas da coisa mágica e alada, tentando agarrar os cheiros, tocar os tons, adormecer na calidez do imaginário, num universo protegido pela minha avó paterna, que vivia connosco. No centro desse imaginário, estava a beleza loura da minha mãe e o escritório do meu pai. Transformei-me numa adolescente ensimesmada, salva pela poesia", recordou ao Diário de Notícias, em fevereiro de 2009, quando "Poesia Reunida" acabara de sair. Teria mesmo um padrasto fascista "que foi oferecer-se para a Guerra Civil em Espanha do lado de Franco", contou ao Expresso.
O trabalho jornalístico inicia-se nos anos 60 e Maria Teresa Horta irá escrever em jornais como A Capital, República, Diário de Lisboa, O Século, Diário de Notícias, Jornal de Letras e Artes, etc. Entretanto, a estreia literária regista-se em 1960 com a obra "Espelho Inicial" e Maria Teresa Horta integra o movimento Poesia 61 ao lado de nomes como Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz ou Luiza Neto Jorge. Publica obras como "Tatuagem" e "Cidadelas Submersas" (ambas de 1961), "Verão Coincidente" (1962) "Amor Habitado" (1963), "Candelabro" (1964), "Jardim de Inverno" (1966) "Cronista Não é Recado" (1967) e "Minha Senhora de Mim" (1971) - por este livro foi inclusive agredida na rua por dois indivíduos ("que deviam ser da Legião Portuguesa"), porque, face à sua condição de mulher, não lhe admitiam a abordagem da sexualidade em livro. Em 1972 surge o tal momento que lhe assegura um lugar na eternidade e que, à época, rendeu inclusive atenções internacionais às três autoras das "Novas Cartas Portuguesas", tal a sanha persecutória de que foram alvo. Considerada "imoral e pornográfica" pela Censura, a obra foi apreendida, enquanto as "três Marias" eram interrogadas e processadas pelo Estado da ditadura. Só a Revolução evitou que o processo ganhasse proporções que as conduziria, por certo, à prisão.
Já sem a ameaça do poder ditatorial, torna-se militante do Partido Comunista (1975-1989) e, em 1975, publica "Educação Sentimental", seguindo-se livros como "As Mulheres de Abril" (1976), "Minha Mãe, Meu Amor" (1984), "Rosa Sangrenta" (1987), "Só de Amor" (1999), "Inquietude" (2006) ou "Poemas para Leonor" (2012). Pelo caminho ficaram anos a fio de sessões de psicanálise e a superação de um cancro da mama.
Casada com o também jornalista Luís de Barros, de quem é viúva desde 2019, Maria Teresa Horta é mãe de Luís Jorge de Barros. Entre as distinções que tem acumulado, a mais recente é o Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído pelo Festival Correntes d'Escritas, pelo livro "Estranhezas". Na já citada entrevista ao Diário de Notícias em 2009 autodefiniu-se: "Sou uma mulher de esquerda, de ideais, de causas, de convicções. Uma mulher da luta pela liberdade." Em nome destas convicções, em 2012 recusou receber das mãos do então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, o prémio D. Dinis, atribuído ao romance "As Luzes de Leonor" (2011), argumentando que não ficaria bem consigo própria "se o recebesse de quem estava empenhado em destruir Portugal".
Publicações D. Quixote
Natália Correia era a diretora literária dos Estúdios Cor que publicaram a primeira edição da obra. De imediato, a censura determinou a recolha e destruição da obra, foi instaurado processo judicial às autoras, a PIDE interrogou-as, tentando que confessassem quem escrevera cada parte mais "atentatória da moral pública". O processo começou a 25 de outubro de 1973, foi adiado e já não resistiu à Liberdade nascida do 25 de Abril.
Sandra Escudeiro, que se identifica como "uma amante da Leitura", tem presença regular aqui no blog, nasceu em 1973 e vive em Vila Nova de Famalicão. É a dinamizadora do "Clube de Leitores", na biblioteca escolar da Escola Básica de Ribeirão, onde trabalha há 11 anos. Por outro lado, é também artesã e, em part time, dedica-se à trapologia desde 2009. Inspira-se na literatura e nos seus autores, idealiza e constrói bonecos exclusivos em trapos designados "Bonecos Urbanos", aqui surgindo as "Figuras Literárias", isto é, bonecos que caracterizam os mais importantes escritores, diversas personagens das histórias infantis bem como outros seres idealizados na imaginação da criadora. Podem acompanhar aqui o seu maravilhoso trabalho: bonecosurbanos.blogspot.com.
Esta é a sua 11.ª presença aqui no blog. Tudo começou com a leitura do poema "A Espantosa Realidade das Coisas", de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, a 15 de junho; seguiram-se "O Limpa-Palavras", de Álvaro Magalhães, a 26 desse mês; "Canção na Massa do Sangue", de Jacques Prévert, a 30 de julho; "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", de Clarice Lispector, a 2 de outubro; "Só" e "O Poço é o Pêndulo", de Edgar Allan Poe, foram as suas leituras de 2 de novembro; no dia 21 desse mês regressou com "Os Transparentes", de Ondjaki. E aproveitou o centenário da escritora Clarice Lispector para regressar, participando nessa edição especial com Inês Henriques e recorrendo à leitura de dois fragmentos da obra da brasileira, no dia 10 de dezembro. A 23 desse mês voltou, então para apresentar um excerto do livro "O Pintor Debaixo do Lava-Louças", de Afonso Cruz. Seguiu-se a presença de 24 de janeiro quando apresentou o poema "Quarto Crescente", do livro "Luto Lento", escrito por João Negreiros.A 10 de fevereiro leu "Devia Morrer-se de Outra Maneira", escrito por José Gomes Ferreira.
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