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Paulo Jorge Pereira

"Se Isto É Um Homem", de Primo Levi

Em tempos de intenso sofrimento para o martirizado povo ucraniano por causa da irracionalidade da guerra decretada por Putin, Agostinho Costa Sousa deixa a porposta de hoje. Ser vítima e testemunha do horror, neste caso o de maior dimensão que a História da Humanidade alguma vez foi capaz de pôr em prática, é aquilo que Primo Levi descreve em "Se Isto É Um Homem". Aqui se fala de como foi sobreviver a um ano nas mãos dos nazis em Auschwitz.



Tudo acabara de acontecer. A terrível história, o incrível sofrimento, o inacreditável sadismo, o horror mais absoluto. Primo Levi sobrevivera a um ano no campo de extermínio de Auschwitz. Mas, como o próprio escreveu, "é como estar já morto". Ou, como diria Elie Wiesel depois do seu desaparecimento, "Primo Levi morreu em Auschwitz há 40 anos". E não era difíficl compreender o que afirmava Wiesel.

De origem judaica, Levi nasceu em Turim a 31 de julho de 1919. Estudante no liceu Massimo d'Azeglio, onde estavam professores antifascistas como Norberto Bobbio Cesare Pavese, este por pouco tempo, o futuro escritor iria licenciar-se em Química na Universidade turinense (1941), superando as inúmeras dificuldades criadas com a aprovação, em 1938, das leis raciais pelo Governo fascista liderado pelo ditador Benito Mussolini. De acordo com estas, os judeus viam vedado o acesso às escolas e também o trabalho em instituições universitárias.

Em 1943, Primo Levi torna-se membro de um grupo da Resistência em ação no vale d'Aosta e por isto será preso e enviado para o campo de concentração de Fòssoli, perto de Capri, seguindo-se a deportação, em fevereiro de 1944, para o inferno de Auschwitz. Serão as tropas russas a libertá-lo em janeiro de 1945, mas Levi nunca recupera por inteiro de tudo o que viu, sofreu e viu os outros sofrerem. Empenhou-se em escrever, em contar, em servir como testemunha fundamental do horror e, de finais de 1945 a princípios de 1947, nasceu "Se Isto É Um Homem" de que aqui se apresenta um excerto. Volta para Turim e trabalha como químico na Montecatini e, mais tarde, na Siva, da qual será diretor até 1975.

"Se Isto É Um Homem" é publicado em 1947 pela editora De Silva, demorando contudo a transformar-se num êxito, algo que só sucede quando a Einaudi, em 1958, se decide pela reedição. Levi não deixará de escrever e publicar depois disso: "A Trégua" (1963) é dedicado ao seu percurso pós-Auschwitz e à sua reintegração na vida em sociedade. O escritor aproveita ainda para escrever contos ou outras histórias como em "Storie Naturali" (1966), "Vizio de Forma" (1971), "O Sistema Periódico" (1975), "Lilit e Altri Raconti" (1981). Entretanto, o regresso ao formato do romance processara-se em 1978 com "La Chiave a Stella", seguindo-se "Se Não Agora, Quando?" (1982). Poesia também faz parte do trabalho literário de Levi com "L'Osteria di Brema" (1975) ou "Ad Ora Incerta" (1984). Há ainda ensaios com "Diálogo com o Físico Tullio Regge" (1984), "L'Altrui Mestiere" (1985) ou "Os que Sucumbem e os que se Salvam" (1986). "La Ricerca delle Radici" (1981) congrega exemplos dos autores mais significativos para Levi.

A 11 de outubro de 1987, uma queda nas escadas do prédio com três andares em que vivia foi fatal para Primo Levi. Sempre se escreveu, em função do que os analistas indicaram depois da morte, que se tratara de suicídio, tendo em conta a depressão que assolava o escritor.

De 2000, sendo obra póstuma, é "L'Ultimo Natale di Guerra".


Publicações D. Quixote/Tradução de Simonetta Cabrita Neto


"Isto é o inferno. Hoje, nos nossos dias, o Inferno deve ser assim, um local grande e vazio, e nós, cansados de estar de pé, com uma torneira a pingar água que não se pode beber, esperamos algo sem dúvida terrível e nada acontece e continua a não acontecer nada. Como pensar? Já não se pode pensar, é como estar já morto. Alguns sentam-se no chão. O tempo passa gota a gota", escreve Primo Levi em "Se Isto É Um Homem".

"Se Isto É Um Homem" teve aqui uma primeira presença quando li um excerto a 9 de junho do ano passado. Agora regressa com Agostinho Costa Sousa que reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro. A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram as mais recentes participações anteriores.

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