Autor de dezenas de livros, criador de letras para canções que fazem parte do imaginário coletivo nacional e multipremiado, Joaquim Pessoa partiu ontem, aos 75 anos. Aqui se recorda o seu "Ano Comum" em escolha de Amílcar Mendes.
Deixou-nos ontem e o País mudou - para pior. Poeta, artista plástico, estudioso da arte da Pré-História e publicitário, Joaquim Pessoa era natural do Barreiro, onde nasceu a 22 de fevereiro de 1948. Homem de múltiplos talentos, começou a trabalhar no suplemento literário juvenil do Diário de Lisboa e foi nos campos do marketing e da publicidade que realizou a sua formação, tendo passado por papéis como o de diretor criativo e diretor geral em diferentes agências publicitárias. Mas não se coibiu de estender à televisão o seu talento, tornando-se autor ou, pelo menos, coautor de programas como Rua Sésamo, 1000 Imagens, 45 Anos de Publicidade em Portugal e outros. Por outro lado, iria desempenhar tarefas no universo educativo como diretor pedagógico e docente de Publicidade no Instituto de Marketing e Publicidade, mas também como professor em Loulé, no Instituto D. Afonso III.
É de 1975 o primeiro de dezenas de livros que publicou e intitula-se "O Pássaro no Espelho". Seguiram-se, ainda no mesmo ano, "Poemas de Perfil", "Amor Combate" (1976), "Canções de Ex-Cravo e Malviver" (1977), "Português Suave" (1978), "Os Dias da Serpente" (1979), "Os Olhos de Isa" (1980), "O Livro da Noite" (1981), "O Amor Infinito" (1982) e a primeira de seis antologias da sua obra, sob o nome "125 Poemas - Antologia Poética". De então para cá, Joaquim Pessoa publicou mais de duas dezenas de obras, sendo "Ano Comum", de que hoje aqui se apresenta um excerto, de 2013 e "O Poeta Enamorado" de 2015. O mais recente exemplo do seu trabalho poético é "Conversa com a Chuva" (2019).
A sua intensa atividade literária está bem expressa nas centenas de recitais em que participou, não apenas intramuros, mas também além-fronteiras. Em 1983 foi responsável, em parceria com Luís Machado, pelo I Encontro Peninsular de Poesia, no qual marcaram presença alguns dos nomes ibéricos mais importantes na arte de fazer poesia. Diretor literário da revista Litexa Editora, também dirigiu o jornal Poetas & Trovadores e colaborou com publicações como A Bola, Vértice e Sílex. De 1988 a 1994 foi diretor da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e, ao lado de Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho, Luiz Villas-Boas e Ary dos Santos, contribuiu para a criação da cooperativa de artistas Toma Lá, Disco.
Entre os galardões conquistados incluem-se os prémios literários da Associação Portuguesa de Escritores, da Secretaria de Estado da Cultura, António Nobre e Cidade de Almada. Em dezembro de 2015, a Câmara Municipal da Moita instituiu o Prémio de Poesia Joaquim Pessoa, atribuindo cinco mil euros e a edição da obra ao vencedor. Até agora, em três edições, venceram José Pedro Alves Moreira, sob o pseudónimo de Sousa Alves, com "A Memória e a Matéria" (uma menção honrosa foi ainda para "Gramática do Assombro", de Nuno Garcia Lopes, que concorreu com o pseudónimo de Miguel de Évora Brandão), Amadeu da Silva Baptista com "Poemas de Leonardo" e "Orfeu sem Mim", de Dionísio Vila Maior.
Por outro lado, a sua poesia está em inúmeras canções, várias bem conhecidas do grande público como "Lisboa, Menina e Moça" (cantadas por Paulo de Carvalho e Carlos do Carmo), "Amélia dos Olhos Doces" e "Alcácer que Vier" (ambas na voz de Carlos Mendes), "Mar Português" (Jorge Palma), "Negreiro" (José Mário Branco), "Talvez Não Saibas" (Kátia Guerreiro), "Gaivota Portuguesa" (Manuel Freire) ou "Assim como Quem Morre" (Fernando Tordo).
Partiu ontem, vítima de cancro. Permanecerá na memória coletiva.
Litexa Editora
Joaquim Pessoa colecionou distinções e foi mesmo criado um prémio de poesia com o seu nome pela Câmara Municipal da Moita.
Amílcar Mendes, ator e "dizedor de poesia", que também foi coordenador das noites de Poesia do Pinguim Café e do Púcaros Bar, no Porto, deixa-nos uma leitura diferente. A sua estreia aqui no blog registou-se a 5 de junho de 2021 com um excerto de "Gin sem Tónica, mas Também", de Mário-Henrique Leiria. Do dia 3 de julho é a leitura de "Poemas de Ponta & Mola", de Mendes de Carvalho, seguindo-se "Poema do Gato", de António Gedeão, a 7 de julho; "Funeral", de Dinis Moura, a 14 de julho; a 24 desse mês, a escolha recaiu em "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade; voltou à aposta em António Gedeão com "Trovas para Serem Vendidas na Travessa de São Domingos" a 6 de agosto; a 10 de setembro, o poema "Árvore", de Manoel de Barros, foi a proposta. "Socorro", de Millôr Fernandes, foi a escolha de dia 11 de outubro e, a 29, foi apresentado "História do Homem que Perdeu a Alma num Café", de Rui Manuel Amaral. A 7 de novembro, Amílcar Mendes trouxe "A História é uma História", de Millôr Fernandes. "Aproveita o Dia", de Walt Whitman, foi a proposta a 27 de novembro.
No dia 15 do mês seguinte, Amílcar Mendes leu "A Princesa de Braços Cruzados" , de Adília Lopes. A 19 surgiu "A Morte do Pai Natal", de Rui Souza Coelho. Quase um mês depois, a 17 de janeiro, apresentou "Uma Faca nos Dentes", de António José Forte. A 8 de fevereiro leu o poema "Não Cantes", de Al Berto. No dia 20, apresentou "Ano Comum", de Joaquim Pessoa. Uma semana mais tarde, a proposta centrou-se em dois textos de Mário-Henrique Leiria. E a 17 de março propôs "Breves Respostas às Grandes Perguntas", de Stephen Hawking. A 15 de abril regressou à poesia de Al Berto e a 21 de julho leu "Anúncios Paroquiais". Al Berto e o seu poema "Fragmentos de um Diário" foram o tema da leitura a 18 de agosto. A 14 de setembro apresentou "Fábula", de Joaquim Castro Caldas. De 9 de outubro é uma nova leitura de "Fragmentos de um Diário", de Al Berto. A 14 de de dezembro trouxe "Era Uma Vez um Pescador", de Rui Souza Coelho. "Deus", de Onofre Varela, foi a escolha na véspera de Natal. De 9 de janeiro é a sua leitura de "Biblioteca", com assinatura de Afonso Cruz. A 3 de fevereiro voltou com o mesmo autor.
Comments