Nova passagem do popular autor japonês aqui pelo blog, agora por iniciativa de Sandra Escudeiro, que propõe um excerto de "Kafka à Beira-Mar", uma das obras de sucesso de Haruki Murakami.
"Pessoas que estejam no meio da confusão gostam dos meus livros - por exemplo, quem vivia na União Soviética em transição para ser Rússia ou na Alemanha da queda do muro de Berlim", contou Haruki Murakami em 2018, numa entrevista ao mesmo jornal, o britânico The Guardian, que já o considerou "um dos grandes romancistas vivos". Nascido a 12 de janeiro de 1949 em Quioto, no Japão, Murakami iria estudar na Universidade de Waseda (Tóquio), com especial atenção às artes dramáticas. Mas não foi logo a escrita o centro das suas atenções profissionais, uma vez que seria proprietário de um bar de jazz (Peter Cat) de 1974 a 1982. Deitava-me às três ou quatro da manhã e a minha vida era uma enorme confusão", recordou na entrevista. "Quando decidi que seria escritor, tomei também a decisão de adotar um modo de vida saudável: deitar-me cedo, levantar-me cedo e fazer exercício físico. Devo ser forte fisicamente para escrever textos poderosos", sintetizou. Agora, é possível que saia da cama às quatro da manhã para escrever durante seis horas, ter dez páginas prontas por dia antes de uma corrida - tornou-se praticante de atletismo e chegou a entrar em ultra-maratonas - ou de ir nadar...
"Ouve a Canção do Vento" (1979) é o seu primeiro livro e a sua vida iria alterar-se de forma radical com a partida para a Europa em 1986, a que se seguiu viagem rumo aos Estados Unidos. "Norwegian Wood" (1987) assegurou-lhe a primeira grande fatia de popularidade (3,5 milhões de exemplares vendidos num ano e adaptação ao cinema) e, na referida entrevista de há quatro anos no Guardian, o escritor afasta a ideia de que o seu estilo seja demasiado americanizado. "Quem cresceu no pós-guerra no Japão durante a ocupação norte-americana sabe com a sua cultura nos influenciou: ouvia jazz e música pop dos Estados Unidos, via programas de televisão deles - era uma espécie de janela para um outro mundo. Aos poucos, fui construindo o meu estilo; nem japonês, nem americano - o meu", explicou.
"Kafka à Beira-Mar", de que hoje Sandra Escudeiro aqui apresenta um trecho, é de 2002. Mas, entre as obras de Murakami, traduzidas para dezenas de idiomas, destacam-se outros títulos, como "Dance, Dance, Dance" (1988), "Crónica do Pássaro de Corda" (1994), "Sputnik, Meu Amor" (1999), "Após o Anoitecer" (2004), "Autorretrato do Escritor Enquanto Corredor de Fundo" (2007), "A Peregrinação do Rapaz sem Cor" (2013), "Homens sem Mulheres" (2014) - do qual saiu a adaptação ao cinema dos contos "Drive my Car", "Sherazade" e "Kino" para o filme com o nome do primeiro que recebeu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2022 -, "O Assassino do Comendador" (2017) ou "Primeira Pessoa do Singular" (2020).
Tradutor de Truman Capote, F. Scott Fitzgerald, J.D. Salinger ou John Cheever, Murakami tem acolhido as suas influências nos livros que publica. E não escreve apenas ficção - a propósito do atentado com gás sarin no metro de Tóquio em 1995, fez entrevistas a sobreviventes para escrever "Underground - O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa" (2006).
A 2 de dezembro de 2020 apreentei aqui pela primeira vez uma obra de Murakami com um excerto de "1Q84".
Leya/Casa das Letras/Tradução de Maria João Lourenço
"A estrutura fundamental nas minhas histórias baseia-se na ideia de que é preciso passar pela escuridão para se chegar à luz", explicou ao diário The Guardian em outubro de 2018.
Sandra Escudeiro, que se identifica como "uma amante da Leitura", mas também artesã, tem presença regular aqui no blog, nasceu em 1973 e vive em Vila Nova de Famalicão. É a dinamizadora do "Clube de Leitores", na biblioteca escolar da Escola Básica de Ribeirão, onde trabalha há 11 anos. Por outro lado, é também artesã e, em part time, dedica-se à trapologia desde 2009. Inspira-se na literatura e nos seus autores, idealiza e constrói bonecos exclusivos em trapos designados "Bonecos Urbanos", aqui surgindo as "Figuras Literárias", isto é, bonecos que caracterizam os mais importantes escritores, diversas personagens das histórias infantis bem como outros seres idealizados na imaginação da criadora. Podem acompanhar aqui o seu maravilhoso trabalho: bonecosurbanos.blogspot.com. Está já nas dezenas a sua participação aqui no blog. Tudo começou com a leitura do poema "A Espantosa Realidade das Coisas", de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, a 15 de junho; seguiram-se "O Limpa-Palavras", de Álvaro Magalhães, a 26 desse mês; "Canção na Massa do Sangue", de Jacques Prévert, a 30 de julho; "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", de Clarice Lispector, a 2 de outubro; "Só" e "O Poço é o Pêndulo", de Edgar Allan Poe, foram as suas leituras de 2 de novembro; no dia 21 desse mês regressou com "Os Transparentes", de Ondjaki.E aproveitou o centenário da escritora Clarice Lispector para regressar, participando nessa edição especial com Inês Henriques e recorrendo à leitura de dois fragmentos da obra da brasileira, no dia 10 de dezembro. A 23 desse mês voltou, então para apresentar um excerto do livro "O Pintor Debaixo do Lava-Louças", de Afonso Cruz. Seguiu-se a presença de 24 de janeiro quando apresentou o poema "Quarto Crescente", do livro "Luto Lento", escrito por João Negreiros. A 10 de fevereiro leu "Devia Morrer-se de Outra Maneira", escrito por José Gomes Ferreira. Cerca de um mês mais tarde foi uma das vozes que contribuíram para o Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher, lendo um excerto de "Insubmissão", de Maria Teresa Horta. A 26 de março trouxe um trecho da obra "A Desumanização", de Valter Hugo Mãe. "A Infinita Fiadeira", de Mia Couto, foi a sua proposta de 6 de maio. A 30 desse mês trouxe "A Cor Azul", de Jaime Soares. A 26 de junho apresentou "Já Não me Deito em Pose de Morrer", de Cláudia R. Sampaio. "Terra do Pecado", de José Saramago, foi a proposta que leu a 16 de novembro, dia em que o escritor completaria 99 anos. "O Perfume", de Patrick Süskind, foi a sua leitura a 2 de fevereiro. A 26 de abril trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. "Infância e Palavra", de Luísa Dacosta, foi a sua proposta de 20 de maio. A 2 de junho voltou "O Limpa-Palavras", de Álvaro Magalhães. "Infância e Palavra", de Luísa Dacosta, regressou a 21. Mia Couto e "A Infinita Fiadeira" foram relembrados a 21 de outubro.
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