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Paulo Jorge Pereira

Armando Liguori Junior lê "Regresso", de Manuel Alegre

Com um longo percurso político marcado pelo combate contra a ditadura, o exílio, a forte intervenção democrática e o intenso trabalho literário, distinguido com inúmeros prémios, entre os quais o Pessoa, em 2017, Manuel Alegre publicou há pouco tempo as "Memórias Minhas", livro que vai já na quarta edição. Hoje, pela voz de Armando Liguori Junior, é o poema "Regresso" que aqui se propõe.



Para lá da intensa atividade política que tem assinalado a sua vida, é pela obra poética e, em alguns casos, imortalizada em música, que Manuel Alegre de Melo Duarte conquistou maior relevo, mais prémios e maior admiração. Com antepassados aristocráticos, fortes ligações familiares ao universo político e ao desportivo (no qual também interveio), o futuro escritor nasceu em Águeda, a 12 de maio de 1936.

Após a formação até à adolescência, Alegre foi estudante de Direito em Coimbra e, além de envolvimento nas áreas de Teatro, Desporto e Jornalismo, logo se embrenhou na luta política, apoiando mesmo a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência em 1958, numa altura em que era já filiado no Partido Comunista (sairia em 1968). A resposta da ditadura salazarista não tardou e levou a que o jovem fosse convocado para cumprir serviço militar em Mafra e nos Açores (1961). Inconformado, ao lado de Melo Antunes, que irá desempenhar papel fulcral no 25 de Abril, procura a ocupação da ilha de São Miguel e, logo no ano seguinte, é enviado para a guerra colonial em Angola. Volta a mostrar o seu espírito combativo com um ensaio de revolta que falha e acaba com a sua detenção pela PIDE na cidade de Luanda em 1963.

O meio ano que passa na prisão permite-lhe tomar contacto com alguns nomes da Cultura angolana como os escritores António Cardoso, Luandino Vieira ou António Jacinto. Volta a Portugal, mas não sem que a ditadura o mantenha sob vigilância, forçando-a a ter residência fixa em Coimbra. Depressa procura a passagem à clandestinidade e, em 1964, escapa rumo ao exílio - primeiro na capital francesa, mais tarde em Argel, onde irá viver durante dez anos. Torna-se um dos dirigentes da Frente Patriótica de Libertação Nacional e, através da emissora A Voz da Liberdade, assume-se como inesquecível porta-voz da luta contra a ditadura. Ao mesmo tempo, a Censura dá ordens de apreensão contra as primeiras obras que publica ("Praça da Canção" e "O Canto e as Armas"), embora isso não impeça que os livros circulem longe dos olhos dos facínoras, nem que a sua poesia deixe de assumir a forma de canções como as de Adriano Correia de Oliveira (por exemplo, "Trova do Vento que Passa"), Manuel Freire, Zeca Afonso ou Luís Cília.

É triunfal o regresso a Portugal após a Revolução, a 2 de maio de 1974, como apoio determinante de Mário Soares no PS, em especial no período do PREC, que culmina com o 25 de Novembro, mas também na fase aprovação da Constituição de 1976, de cujo preâmbulo é redactor.

Dirigente socialista a partir de 1974, é sempre eleito deputado pelo círculo eleitoral de Coimbra entre 1975 e 2002, passando a ser eleito por Lisboa de 2002 a 2009. Elemento do I Governo Constitucional com o Partido Socialista (1976), será vice-presidente da Assembleia da República (1995-2009) e integrante do Conselho de Estado (1996-2002 e 2005-2009, embora em funções até 2016).

De 2005, altura em que entra em desacordo com Soares e com o partido de que era já histórico dirigente, é a sua candidatura à Presidência da República: como independente, foi segundo, à frente de Mário Soares, apesar de este ter recebido o apoio do PS. Desde então, tem mantido presença regular na vida política, sobretudo erguendo a voz contra a ameaça da extrema-direita.

Na poesia, é extensa a lista de publicações de Alegre, tendo início logo em 1965 com o famoso " Praça da Canção", dois anos antes de outro acontecimento literário como foi "O Canto e as Armas". A partir daqui, a regularidade é um traço que permanece: "Um Barco para Ítaca" (1971); "Coisa Amar (Coisas do Mar)" é de 1976; "Nova do Achamento" (1979); "Atlântico" (1981); "Babilónia" (1983); "Chegar Aqui" e "Aicha Conticha" (ambos de 1984); "A Rosa e o Compasso" (1991); "Com que Pena - Vinte Poemas para Camões" (1992); "Sonetos do Obscuro Quê" (1993); "Coimbra Nunca Vista" (1995); de 1996 são "As Naus de Verde Pinho" e "Alentejo e Ninguém"; "Che" (1997); "Pico" e "Senhora das Tempestades" foram publicados em 1998; "E Alegre se fez Triste" (1999); "Livro do Português Errante" (2001); "Nambuangongo, Meu Amor" e "Sete Partidas" são de 2008; "Bairro Ocidental" (2015) e "Auto de António" (2017).

Mas Alegre tem outras facetas - por exemplo, a da ficção, com títulos como "Jornada de África" e "O Homem do País Azul (ambos de 1989); "Alma" (1995); "A Terceira Rosa" (1998); "Uma Carga de Cavalaria" (1999); "Cão como Nós" (2002) e "Rafael" (2003).

Há ainda as suas incursões na literatura para os mais jovens ("Barbi-Ruivo", de 2007; "O Príncipe do Rio", de 2009; e "As Naus de Verde Pinho: Viagem de Bartolomeu Dias contada à minha filha Joana", de 2015); uma antologia de intervenções e textos de índole política, sob o título "Contra a Corrente" (1997); ensaio com "Arte de Marear" (2002); crónicas em "O Futebol e a Vida, do Euro 2004 ao Mundial 2006" (2006); "Uma outra Memória - A Escrita, Portugal e os Camaradas dos Sonhos" (2016) e o recente "Memórias Minhas".

É possível saber mais sobre o político e autor aqui.


D. Quixote  


"Regresso" é um poema que integra o livro "Manuel Alegre - 30 Anos de Poesia".

Armando Liguori Junior, ator e jornalista de formação, publicou, há pouco tempo, "Eu Poderia Estar Matando", mas tem outros livros publicados: três de poemas ("A Poesia Está em Tudo" – Editora Patuá 2020; "Territórios" – Editora Scortecci 2009; o recente "Ser Leve Leva Tempo", que já aqui apresentou; e um de dramaturgia: "Textos Curtos para Teatro e Cinema (2017) – Giostri Editora). Atualmente mantém um canal no YouTube (Armando Liguori), dedicado a leituras literárias, especialmente de poesia. Estreou-se nas leituras aqui para o blog com "Se te Queres Matar Porque Não te Queres Matar?", de Álvaro de Campos, a 15 de julho de 2020, seguindo-se "Continuidades", de Walt Whitman, a 7 de agosto e "Matteo Perdeu o Emprego", de Gonçalo M. Tavares, a 11 de setembro, várias leituras do meu "Murro no Estômago" (a 16 de outubro de 2020 e a 5 de setembro de 2021). Em 2021, a 12 de fevereiro, apresentou "Pelo Retrovisor", de Mário Baggio, seguindo-se "A Gaivota", de Anton Tchekhov, a 27 de março, Dia Mundial do Teatro; "A Máquina de Fazer Espanhóis", de Valter Hugo Mãe, a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa; e, a 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com leituras de "Cheira Bem, Cheira a Lisboa", de César de Oliveira, e um trecho de "Viagem", de Miguel Torga. A 26 de outubro surgiu "O Medo", de Carlos Drummond de Andrade, e Niels Hav com "Em Defesa dos Poetas" foi o passo seguinte, a 28. Antes de hoje, Armando Liguori Junior apresentara "Algo Está em Movimento", de Affonso Romano de Sant'Anna, a 30 de outubro de 2021. A 2 de março de 2022 leu "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", de Jorge Amado, e no dia 6 apresentou "A Máquina", de Adriana Falcão. "As Coisas", de Arnaldo Antunes, foi a proposta de 13 de março.

A 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, leu "Ser Leve Leva Tempo". A 13, Armando Liguori Junior deixou outro exemplo de talento ao ler "Pássaro Triste", do seu livro "Toda Saída É de Emergência". No dia 19, Cecília Meireles e o poema "Escolha o seu Sonho" foram as propostas. Seguiu-se um excerto de "Macunaíma", de Mário de Andrade, a 27 de maio. De 3 de junho é a proposta de leitura de "Sapatos", de Rubem Fonseca. A 4 de novembro leu "Samadhi", de Leila Guenther. De dia 24 é "Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya", de Jorge de Sena. "O Gato e o Pássaro", de Jacques Prévert", foi a leitura de 29 de novembro.

A 13 de janeiro trouxe um poema de Cristina Peri Rossi. A 5 de maio, no Especial sobre o Dia Mundial da Língua Portuguesa, aqui voltou o seu "Ser Leve Leva Tempo". A 18 de maio voltou "O Medo", de Carlos Drummond de Andrade. No dia 5 de junho apresentou "O Poeta Fernando", inserido no seu novo livro intitulado "Eu Poderia Estar Matando". A 15 de junho regressou "Algo Está em Movimento", de Affonso Romano de Sant'Anna. A 19 de junho leu "O Último Poema do Último Príncipe", de Matilde Campilho. A 28 de agosto voltou "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", de Jorge Amado. De 9 de novembro é a leitura do meu terceiro livro, "Filho da PIDE". "Diluição", de Joana M. Lopes, foi lido a 29 de novembro. Voltou a 5 de dezembro com "Escolha o seu Sonho", de Cecília Meireles. A 28 de dezembro leu "Os Invisíveis", de José Henrique Calazans. "Samadhi", de Leila Guenther, voltou a 19 de janeiro. De 29 de janeiro é o poema "Ama os teus Sonhos", de Alice Vieira. A 9 de fevereiro leu "Coisas Que Não Há Que Há", de Manuel António Pina. De 19 desse mês é uma nova leitura do meu segundo romance e terceiro livro, "Filho da PIDE". A 16 de março regressou "Os Invisíveis", de José Henrique Calazans. A 2 de abril trouxe uma outra leitura de um excerto de "Filho da PIDE", algo que se repetiu a 8 e a 24 e a 4 de maio.

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