Depois de leituras de obras como "As Velas Ardem até ao Fim" ou "A Herança de Eszter", Agostinho Costa Sousa seleciona de novo "Rebeldes" de entre as que foram escritas por Sándor Márai.
Passou mais de 40 anos no exílio, deixando a Hungria no final dos anos 40 e mantendo sempre o tom crítico contra o regime comunista. Nasceu húngaro, a 11 de abril de 1900, na cidade de Kassa, hoje Kosice e parte da Eslováquia. Chamou-se Sándor Károly Henrik Grosschmid e só mais tarde passaria a ser conhecido como Sándor Márai. O mundo ainda não conhecera as duas Grandes Loucuras Mundiais de horror e morte e o jovem, filho de um advogado e de uma professora, teve uma infância feliz, interrompida com a eclosão do conflito que durou entre 1914 e 1918. Nessa Europa ainda mal refeita do ódio e de um banho de sangue, Márai afastou-se do regime de Miklós Horthy (mais tarde aliado da Alemanha nazi até 1944, altura em que a Hungria foi invadida pelas tropas de Hitler e Horthy preso - seria libertado no final da guerra e testemunha nos julgamentos de Nuremberga, vivendo em Portugal a partir de 1948) e trocou o seu país pela Alemanha em 1919, morando em Berlim e em Frankfurt.
Começou logo a trabalhar como jornalista e seria correspondente em Paris de uma publicação germânica durante os anos da República de Weimar. Com 24 anos teria a sua estreia literária num percurso que inclui dezenas de obras. Voltou à Hungria várias vezes, mas, após a II Guerra Mundial, com a subida ao poder do regime comunista, Márai afastou-se em definitivo e radicou-se nos Estados Unidos. Regressou à Europa e passou períodos da sua vida na Suíça e em Inglaterra, no começo dos anos 50. Durante 15 anos desenvolveu a sua atividade profissional na rádio Europa Livre, saiu em 1967 e, no ano seguinte, viveu em Palermo, na Sicília. Ainda em 1968 acaba por regressar aos Estados Unidos e fixa-se em San Diego.
Tinha já muitos livros publicados quando deixara a Hungria no final da década de 40 e, enquanto o governo proibia a circulação da sua obra no país, esta tornava-se um sucesso. O preço a pagar foi o exílio, mantendo sempre o seu tom crítico com o regime comunista. Foi sempre escrevendo e a admiração dos leitores cresceu à medida que aumentava os exemplos da sua poesia, mas também de romances e peças de teatro. "Rebeldes" é de 1930, mas não faltam exemplos variados do seu trabalho literário: "The Confessions" (1934), "Divórcio em Buda" (1935), "A Herança de Eszter" (1939), hoje aqui no centro das atenções, "Conversa em Bolzano" (1940). "As Velas Ardem Até ao Fim", de que aqui já se apresentou um trecho, foi publicado em 1942. Mas a vasta lista engloba também "A Mulher Certa", "A Ilha", "A Irmã" ou "A Gaivota", tendo a sua obra merecido traduções para dezenas de idiomas ao longo das décadas.
Defensor da liberdade de pensamento e de escolha, Márai cuidou da mulher depois de esta adoecer e durante o longo período de sofrimento a que o mal a submeteu. Talvez pelas duas razões, a ideia de que as escolhas deviam ser suas até às últimas consequências e o facto de não querer estar sujeito à dor que tanto apoquentara a mulher, Sándor Márai suicidou-se com um tiro na cabeça a 22 de fevereiro de 1989, aos 88 anos. Já não teve oportunidade de assistir à queda do Muro de Berlim e do comunismo.
Companhia das Letras/Tradução de Paulo Schiller
Escreveu e publicou dezenas de livros e viveu muitos anos nos Estados Unidos, mas morreu antes da queda do Muro de Berlim: Sándor Márai já não assistiu ao descalabro do comunismo que o obrigara a exilar-se.
Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.
A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.
No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".
A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou.
A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker. "Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria. A proposta de dia 22 de fevereiro foi "Roseira de Espinho", de Nuno Júdice. No dia 7 de março propôs "Método de Caligrafia para a Mão Esquerda", de António Cabrita. No Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, apresentou "Memórias", de Raul Brandão.
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