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  • Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge

Explorador norueguês que se tornou o primeiro a chegar aos polos Norte e Sul e ainda ao topo do Evereste, Erling Kagge e o seu "Silêncio na Era do Ruído", são as escolhas que hoje regressam com Agostinho Costa Sousa.



Intrépido explorador nos tempos modernos dos lugares mais inóspitos do planeta, o norueguês Erling Kagge, nascido em Oslo a 15 de janeiro de 1963, não se fica pela conquista desses desafios, mas também transfere para a escrita as suas reflexões mais filosóficas em redor deata aventuras. É possível que ainda não imaginasse que seria a primeira pessoa a chegar aos Polos Norte e Sul e de atingir o topo do Evereste quando se licenciou em Direito (mais tarde teria uma pós-graduação em Filosofia). Seria advogado, editor, colecionador de arte e até modelo publicitário para marcas de relógio, mas a sua principal faceta e aquela que maior visibilidade lhe confere é precisamente a de explorador.

Há cinco anos, em declarações à RTP, lembrou uma das experiências marcantes: "Caminhar sozinho até ao Polo Sul, como eu fiz, durante 50 dias e noites, sem contacto via rádio, sob o sol da meia-noite naquele continente coberto de neve e gelo, foi muito esclarecedor. Porque foi uma caminhada para o Polo Sul, para o polo geográfico, mas também uma caminhada até ao meu polo interno." Foi em 1993, concluindo um percurso próximo de 1.300 quilómetros, feito que levou a revista Time a colocá-lo na capa. Antes, em 1990, partiu da ilha de Ellesmere, no Canadá, acompanhado por Borge Ousland, a 8 de março, chegando a dupla ao Polo Norte a 4 de maio. De 1994 é a chegada ao cimo do Monte Evereste.

A descoberta do silêncio tornou-e uma das ideias centrais das suas explorações e isso mesmo surge descrito no livro hoje proposto por Agostinho Costa Sousa, intitulado "Silêncio na Era do Ruído". "Os aparelos como um iPhone ou uma televisão, as pessoas, um carro a passar, geram tanto ruído no aspeto dos sons, mas também no sentido das distrações, expectativas... Retrato os ruídos que já não conseguimos ouvir ou sentir", descreveu na referida entrevista à RTP de 2017, momento da publicação do livro.

Mas o espírito aventureiro de Kagge levou-o também, por exemplo, a desafiar o Atlântico, o cabo Horn e a Antártica. Ou, em caminhadas urbanas com duração variada, a descer às profundidades do sistema de túneis e esgotos de Nova Iorque (demorou cinco dias, ao lado do fotógrafo Steve Duncan, para o trajeto entre o Bronx e o porto atlântico), no Sunset Boulevard de Los Angeles em 2012 com Petter Skavlan e Peder Lund e, com os mesmos parceiros, mas em 2019, na Broadway (de Sleepy Hollow ao extremo de Manhattan).

"É fácil pensar na busca do silêncio como viver uma vida mais egocêntrica, mas penso que o silêncio é o opostoé abrirmo-nos ao mundo, é estar desperto, é apreciar as pulsações da vida. Tem a ver com um amor ainda mais profundo pela Terra", sintetizou na conversa com a RTP há cinco anos.

Articulista em publicações como o Guardian, o New York Times ou o Financial Times, além do livro hoje aqui apresentado por Agostinho Costa Sousa, Kagge publicou ainda outras obras: "Nordpolen: Det Siste Kappløpet" (1990); "Alene til Sydpolen" (1993); "Pole to Pole & Beyond" (1994); "Philosophy for Polar Explorers: What They Don't Teach You in School" (2007); "A Poor Collector's Guide to Buying Great Art" e "Manhattan Underground" (ambos de 2015); "Walking: One Step at a Time" e "Philosophy for Polar Express: An Adventurer's Guide to Surviving Winter" (os dois de 2019).


Quetzal/Tradução de Guilherme da Silva Braga


"O silêncio é sobretudo uma ideia. Uma noção. O silêncio que nos rodeia pode conter muito, mas o tipo de silêncio mais interessante é o interior. Um silêncio que cada um de nós tem de criar", escreve Kagge. "É por isso que já deixei de tentar criar um silêncio absoluto à minha roda. O silêncio que procuro é o silêncio interior."

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.

A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".

A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e hoje aqui regressa.

A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker. "Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa.

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