"A Menstruação Quando na Cidade Passava", escrito por Herberto Helder e inserido no livro "Poemas Completos", é a escolha de Inês Henriques.
Escreveu muito e muito se escreveu sobre ele, mas o poeta Herberto Helder procurou manter-se distante do circo mediático e pedia a quem o conhecia que não colaborasse caso alguém tentasse quebrar essa vontade. Nascido no Funchal, a 23 de novembro de 1930, irmão de Maria Regina e Maria Elora, perdeu a mãe aos sete anos e essa marca ficará para sempre na sua obra. Viajou para o continente em 1948 e matriculou-se na Faculdade para estudar Direito em Coimbra, mas acabaria por mudar-se para Filologia Românica. Quando esteve na capital fez um pouco de tudo, sendo jornalista, tradutor, apresentador de programas na rádio e bibliotecário. Passa pelo movimento surrealista e pela Poesia Experimental ao lado de Ana Hatherly, António Aragão, Melo e Castro, Salette Tavares, entre outros, e Luiz Pacheco iria editar a sua primeira obra, "O Amor em Visita" (1958). Escreve na revista Pirâmide e, aos poucos, vai ganhando estatuto de voz original na poesia portuguesa, mesmo que os seus livros tenham, por vontade própria, devido à vontade de se manter distanciado da massificação (deu a última entrevista em 1968 e no ano seguinte teve rara participação numa curta-metragem), tiragens modestas com escassas centenas de exemplares. Volta à Madeira, viaja pela Europa, desempenha tarefas tão invulgares como ser cortador de legumes, guia de marinheiros em bairros de prostitutas ou empacotador de aparas de papel e vai escrevendo. "A Colher na Boca", "Poemacto", "Lugar", "A Máquina de Emaranhar Paisagens", o livro de contos "Os Passos em Volta", "Electrònicolírica", "Húmus: Poema-Montagem", "Retrato em Movimento", "O Bebedor Nocturno" são algumas das obras editadas até à década de 70. Nessa altura, a sua escrita é contagiada pela alquimia e pelo oculto. Sem trabalho e em dificuldades além-fronteiras, acaba por voltar a Portugal. Entre 1971 e 1972 está em Angola, trabalha na revista Notícia, escreve crónicas e reportagens que darão origem a um livro - "em minúsculas", publicado apenas após a sua morte - e sofre um grave acidente de automóvel. Regressa a Portugal e prossegue a publicação: "Cobra", "O Corpo o Luxo a Obra", "Photomaton & Vox", "Flash", "A Plenos Pulmões". De 1981 é a primeira coletânea do seu trabalho poético, "Poesia Toda 1953-1980". Não se afasta um milímetro da sua ideia de permanecer na penumbra. A Fundação Gulbenkian, para a qual trabalhou no serviço de bibliotecas itinerantes, tenta garantir-lhe um subsídio que o poeta não aceita. A Associação Portuguesa de Críticos atribui-lhe um prémio em 1988, mas o escritor recusa-o. Seis anos mais tarde age de igual forma e rejeita o Prémio Pessoa.
Até morrer aos 84 anos, a 23 de março de 2015, publicará mais cerca de duas dezenas de obras, transformando-se num dos nomes mais respeitados da poesia em português na segunda metade do século XX. "Poemas Completos", que Inês Henriques hoje usa para a sua leitura, teve edição em 2021.
Casou-se por duas vezes, tendo uma filha (Gisele) do primeiro casamento, nenhum do segundo e um filho (o jornalista Daniel Oliveira) da relação com Isabel Figueiredo.
A obra de Herberto Helder estreou-se aqui por iniciativa da jornalista freelancer Cláudia Marques Santos, a 20 de maio de 2020, com a leitura de um excerto da obra "Os Passos em Volta".
Porto Editora
Estar à margem foi uma questão de honra para o escritor que sempre recusou quaisquer formas de reconhecimento por parte das instituições.
A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a vida de Inês Henriques. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração. Inês Henriques tem presença regular e já está na casa das dezenas em participações aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia.
A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa. No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. No passado dia 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques. A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no passado dia 4. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março.
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