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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "A Primavera", de Bruno Schulz

Updated: Apr 23, 2023

É com o conto "A Primavera", inserido no livro "Sanatório sob o Signo da Clepsidra", de Bruno Schulz, que Agostinho Costa Sousa compõe a proposta de leitura para hoje.



Nascido em Drohobycz, então parte do Império Austro-Húngaro e atual Ucrânia, a 12 de julho de 1892, Bruno foi o mais jovem de três irmãos (Hanna e Izydor eram os outros dois), filhos do casal formado pelos judeus polacos Jakob (dono de uma empresa têxtil) e Hendel-Henrietta Kuhmärker, herdeira de uma família ligada ao negócio de venda de madeiras. Estudante aplicado, em 1910 opta por Arquitetura no Instituto Politécnico de Lwow ao mesmo tempo que o pai adoece e a família acaba por mudar-se para casa da filha Hanna, então já casada.

Mas as questões de saúde também afetam o jovem Bruno que, logo em 1911, interrompe os estudos universitários devido a problemas cardíacos e pulmonares, tendo mesmo de ser internado, meses mais tarde, no sanatório Truskawiec. Após quase dois anos de paragem, o futuro pintor e escritor volta a Lwow e aos estudos superiores, mas nova interrupção acontece em 1914 devido à eclosão da I Guerra Mundial. Desloca-se para Viena com a família, regressa à Arquitetura no Instituto Politécnico, mas também passa pela Academia de Belas Artes antes de novo regresso a Drohobycz. Porém, no início de 1915 a casa é destruída pelo conflito armado e, a 23 de junho, morre-lhe o pai. Procura o universo cultural para afastar o desgosto e, em 1918, integra o grupo Kalleia, formado por outros judeus de Drohobycz. Prepara os primeiros trabalhos de pintura e escrita, procurando trabalho como professor na sua cidade de origem, entretanto tornada território da Polónia, mas volta a ser prejudicado pela saúde em 1921. No ano seguinte, Varsóvia acolhe a primeira exposição de pintura coletiva com a sua presença. Em agosto acontece novo internamento num sanatório, agora em Kudowa, na altura solo germânico.

De 1923 é a sua presença em Varsóvia e a pintura de diversos retratos, correspondendo a encomendas, antes de assumir o cargo de professor de Desenho, no começo de setembro de 1924. Expõe no sanatório de Truskawiec em 1928 e, apesar das acusações de pornografia de que é alvo a sua obra, consegue sucesso. No entanto, perde o posto de trabalho em agosto e só o recupera com estabilidade no início do ano seguinte. Volta às exposições e, em abril de 1931, perde a mãe.

Continua a ensinar (Desenho e Trabalhos Manuais), mas também escreve e confia a Stefan Szuman, seu colega na área de Psicologia, a leitura do manuscrito de "Lojas de Canela", cuja publicação só irá acontecer em 1933. Viaja e, face a críticas positivas ao seu livro, publica "O Segundo Outono", "A Noite de Julho" e "A Época Genial" em revistas literárias. Problemas cardíacos vitimam o irmão em janeiro de 1935 e Bruno, noivo da tradutora Józefina Szelińska, tem de cuidar de toda a família. Candidata-se a prémios literários e torna a publicar contos em revistas: "O Livro", "Dodo", "A Primavera" (hoje aqui apresentado por Agostinho Costa Sousa), entre outros, além de diversos ensaios.

Colabora regularmente com a revista Wiadomości Literackie e, em 1937, ano de publicação de "Sanatório sob o Signo da Clepsidra", abandona Józefina Szelińska. Participa em conferências e viaja para Paris em 1938, recebendo em novembro o prémio Złoty Wawrzyn Polskiej Akademii Literatury. Mas o ambiente de perseguição aos judeus e o início da II Guerra, em 1939, com a entrada de tropas alemãs na sua localidade de origem, deixam-no deprimido. Ainda assim, mantém o posto como professor, já com domínio das tropas russas na sua região, colaborando em diversas iniciativas da Rússia. O cenário torna a mudar a 22 de junho de 1941 quando a Alemanha de Hitler invade a URSS - em julho, os invasores entram em Drohobycz e, no contexto de perseguições e assassínios de judeus, o escritor perde o emprego de professor. Ainda assim, o seu trabalho de pintura é respeitado por um oficial alemão, Felix Landau, que o protege da violência em troca de murais que pinta em sua casa, mas não da colocação no gueto.

Doente, sente-se em perigo quando o oficial do Reich é transferido, depois de matar um dentista judeu que era protegido pelo seu rival, Karl Günther, e, além de entregar os seus trabalhos literários a amigos, tenta arranjar documentação falsa que lhe permita fugir. Na manhã de 19 de novembro de 1942, quando tenta recolher uma refeição, é supreendido por uma rusga da Gestapo e assassinado com dois tiros na nuca, desferidos pela arma de Günther.


Maldoror


Bruno Schulz morreu a 19 de novembro de 1942, assassinado por um oficial da Gestapo.

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.

A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".

A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou.

A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker. "Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria. A proposta de dia 22 de fevereiro foi "Roseira de Espinho", de Nuno Júdice. No dia 7 de março propôs "Método de Caligrafia para a Mão Esquerda", de António Cabrita. No Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, apresentou "Memórias", de Raul Brandão. De 30 de março é a leitura de um trecho da obra "Rebeldes", de Sándor Márai. A 10 de abril propôs "O Amante da Minha Mãe", de Urs Widmer.

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