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  • Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "Servidão Humana", de Somerset Maugham

Updated: Sep 17, 2023

Uma das mais famosas obras de Somerset Maugham, intitulada "Servidão Humana" e também adaptada ao Cinema, é a proposta de leitura que Agostinho Costa Sousa nos apresenta hoje.



William Somerset Maugham teve uma vida com episódios invulgares e tragédias. Logo no nascimento, a 25 de janeiro de 1874, registado na própria embaixada do Reino Unido em Paris por decisão do pai, o advogado Robert Ormond Maugham, que, conhecendo as regras, tomou a decisão para proteger o filho: a lei ditava que todos os rapazes nascidos em solo francês teriam de cumprir serviço militar. Nascendo na embaixada, Somerset estaria em território do Reino Unido e, dessa forma, escaparia ao envolvimento em possíveis conflitos com a participação francesa.

Edith, a mãe, foi atingida pela tuberculose e, com apenas seis anos, William perdeu a mãe. O pai morreria dois anos mais tarde, vitimado pelo cancro, pelo que os quatro rapazes tiveram de viajar para Inglaterra, onde foram recebidos por Henry MacDonald Maugham, um tio que exercia funções como religioso, mas que manteve sempre um relacionamento distante e vazio de afeto com os sobrinhos. Os anos de escola foram difíceis, porque o jovem era frequente alvo da crueldade dos colegas. Até que rejeitou a possibilidade de permanecer mais tempo na The King’s School e o tio permitiu que seguisse viagem para a Alemanha.

Ao contrário de um dos três irmãos mais velhos, Frederic Herbert, do pai e do avô, Somerset Maugham não se aproximou do exercício do Direito. Na Universidade de Heidelberg, dedicou-se ao estudo de Literatura, Alemão e Filosofia, mas apenas durante um ano, marcado ainda pela que terá sido a primeira aventura no plano sexual com John Ellingham Brooks. Aqui escreveu a biografia de Giacomo Meyerbeer, compositor e maestro germânico.

De volta a Inglaterra, iria estudar Medicina em Londres durante cinco anos. A escrita manteve-se alimentada nas horas vagas e, em 1897, o jovem tentou a sua sorte com uma segunda obra, intitulada “A Pecadora Liza”, acolhida com elogios generalizados e sucesso. Afastando-se da Medicina, Somerset Maugham apostou na Literatura, mas as obras seguintes não conheceram o mesmo resultado. Teve de esperar até 1907, quando publicou a peça “Lady Frederick”, para voltar a conquistar um lugar de evidência.

O seu trabalho literário, com relevo para o de dramaturgo, passou a ser acompanhado de perto pelo público, mas, com a eclosão da I Guerra Mundial, Maugham associou-se ao grupo de escritores que prestava serviço na Cruz Vernelha. Ao lado de E.E. Cummings, John dos Passos ou Ernest Hemingway, tornou-se condutor de ambulâncias. E seria neste papel que escreveria o famoso “Servidão Humana” (1915). Foi também nesta fase que conheceu Frederick Gerald Haxton com quem iria manter relacionamento até 1944.

Outras ligações sentimentais se sucederam e, de uma delas, com Syrie Wellcomo - que se afastou do marido e com quem Maugham se casaria em 1917, divorciando-se em 1928 -, nasceria uma filha (Mary Elizabeth). Entretanto, o escritor afastou-se do serviço de ambulâncias, ainda quis voltar, mas, perante a impossibilidade de o fazer, viajou para a Suíça, ali agindo em apoio dos serviços secretos britânicos.

Com Haxton ao lado, viajou pelo Oriente, aqui recolhendo muito material para a sua escrita, fossem romances, peças de teatro ou livros de viagens. Em 1917 esteve na Rússia em nova missão para os serviços secretos britânicos. Continuou a escrever e a publicar com frequência, mantendo a linha do sucesso que lhe possibilitou comprar, no final dos anos 20, a propriedade na Riviera francesa onde iria morrer.

A década de 40 devolve-o a tempos exigentes: a invasão nazi em França obriga-o a fugir para os Estados Unidos, onde várias obras suas são adaptadas ao Cinema e dá palestras a favor do esforço de guerra dos Aliados. Em 1944, morre Haxton, e Maugham decide regressar a Inglaterra, onde estabelece relação com Alan Searle, a quem irá adotar como filho nos últimos anos de vida.

No pós-guerra, logo em 1946, instalou-se na casa de Cap Ferrat, transformando-a num centro de encontros literários e sociais. Criou no ano seguinte o Prémio Somerset Maugham, cuja lista de vencedores inclui, entre outros, Vidiadhar Naipul, Martin Amis, Thom Gunn ou Kingsley Amis.

Além dos já referidos, a obra de Somerset Maugham inclui "Ah, King"; "O Canto Estreito"; "Catalina"; "O Mágico"; "Chuva e outras Novelas"; "Carrocel"; "Um Gosto e Seis Vinténs"; "Mrs Craddock"; "Destino de um Homem"; "Em Terras Estranhas"; "As Três Mulheres de Antibes"; “Histórias dos Mares do Sul”; “A Indomável”; “Cavalheiro de Salão”; "Exame de Consciência"; "A Outra Comédia"; "Férias de Natal"; "A Casuarina"; "Antes do Amanhecer"; "Um Casamento em Florença"; "Ashenden, o Agente Britânico"; "Biombo Chinês"; "Maquiavel e a Dama"; "O Fio da Navalha"; "Paixão em Florença"; "A Lua e Cinco Tostões"; "O Véu Pintado"; "As Paixões de Júlia"; "A Carta".

Depois de uma série de episódios de demência, morreu aos 91 anos na sua casa de França, a 16 de dezembro de 1965.


Asa/Tradução de Ana Maria Chaves


O próprio escritor criou um prémio literário com o seu nome e que, ao longo do tempo, já distinguiu nomes como Vidiadhar Naipul ou Martin Amis.

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio de 2021 com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.

A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".

A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou. A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker.

"Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria. A proposta de dia 22 de fevereiro foi "Roseira de Espinho", de Nuno Júdice. No dia 7 de março propôs "Método de Caligrafia para a Mão Esquerda", de António Cabrita. No Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, apresentou "Memórias", de Raul Brandão. De 30 de março é a leitura de um trecho da obra "Rebeldes", de Sándor Márai. A 10 de abril propôs "O Amante da Minha Mãe", de Urs Widmer. De 21 de abril é a leitura de um trecho do conto "A Primavera", escrito por Bruno Schulz. Do Especial dedicado ao 25 de Abril constaram poemas de Sara Duarte Brandão. A 2 de maio propôs "A Musa Irregular", de Fernando Assis Pacheco. "Ravel", de Jean Echenoz, é de 6 de junho.

"Tristia", de António Cabrita, foi a sua leitura a 9 de junho. A 23 leu "Foi Ele?", de Stefan Zweig. No dia 7 de julho trouxe "Cartas 1955-1964, volume II", de Julio Cortázar. "Uma Faca nos Dentes", de António José Forte, chegou a 21 de julho.

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