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Paulo Jorge Pereira

"Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa


Agora que passam 50 anos sobre a publicação da obra "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, aqui se recupera a leitura feita por Inês Henriques em homenagem a esta última. Desaparecida aos 81 anos, a 23 de maio de 2020, Maria Velho da Costa foi Prémio Camões em 2002. Inês Henriques apresenta um excerto do livro que, em 1972, juntou as "três Marias" na denúncia da repressão exercida pela ditadura e na defesa da emancipação feminina.



"Novas Cartas Portuguesas" foi um ato de coragem inexcedível de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, decidido num encontro das três em maio de 1971. Além de vozes da renovação da Literatura portuguesa, foram porta-vozes da rebeldia, do inconformismo com a condição feminina, da reivindicação de direitos para as mulheres, da denúncia da emigração, da guerra colonial e da luta antifascista. Escrever aquela marcante obra valeu às três mulheres um processo que só seria suspenso após a Revolução do 25 de Abril, apesar da enorme onda de solidariedade que se gerou, no plano nacional mas também além-fronteiras, em redor das três escritoras. Mas antes do grito de revolta feito livro já havia diversas obras publicadas pelas autoras.

Maria Velho da Costa nasceu em Lisboa a 26 de junho de 1938. Iria licenciar-se em Filologia Românica na Faculdadade de Letras da Universidade de Lisboa e, mais tarde, professora do ensino secundário nas áreas pública e privada, trabalhando também no Instituto Nacional de Investigação Industrial e de obter o curso de Grupo-Análise da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria. Em 1963 tem a estreia literária com "O Lugar Comum", seguindo-se "Maina Mendes" e "Ensino Primário e Ideologia". De 1973 a 1978 fez parte da direção e presidiu à Associação Portuguesa de Escritores. Pouco depois desempenhava funções governativas como adjunta do Secretário de Estado da Cultura, em 1979, no histórico Executivo liderado pela única mulher que até hoje desempenhou a função de Primeiro-Ministra em Portugal, Maria de Lourdes Pintasilgo. Porém, o V Governo Constitucional teve existência curta, durando apenas entre julho de 1979 e janeiro de 1980.

Vai diversificando a sua obra por géneros como romance, ensaio, conto, poesia, teatro e crónica, destacando-se "Revolução e Mulheres", "Cravo", "Português; Trabalhador; Doente Mental", "Casas Pardas", "Da Rosa Fixa", "Casas Verdes" ou "Lucialima". Leitora no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros no King's College, em Londres, entre 1980 e 1987, foi nomeada adida cultural em Cabo Verde (1988/1991), além de participar na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, seguindo-se missão no Instituto Camões. Continuará a publicar até 2008, sendo exemplos obras como "Missa in Albis", "Madame", "Irene ou o Contrato Social", "O Amante do Crato" e "Myra". Distinguida com diversos galardões ao longo da vida, em 2002 recebeu o Prémio Camões.

Colaborou também no Cinema, escrevendo para realizadores como João César Monteiro - "Veredas" ou "Que Farei eu com esta Espada?" - e Margarida Gil - "Rosa Negra" e "Anjo da Guarda". A voz conhecedora de Eduardo Lourenço considerou a sua escrita "de um virtuosismo sem exemplo entre nós".

Doente, aos 81 anos desapareceu em maio de 2020 a segunda das três Marias - Maria Isabel Barreno morrera a 3 de setembro de 2016. Nascera em Lisboa, a 10 de julho de 1939, cedo revelando profunda paixão pela leitura e pela escrita. Iria licenciar-se em Ciências Histórico-Filosóficas, passando a desenvolver atividade profissional no Instituto de Investigação Industrial. Ao mesmo tempo intensificava os seus argumentos criativos em áreas como o ensaio, as artes plásticas e, aos poucos, o próprio jornalismo. Publicou mais de duas dezenas de obras, recebendo o Prémio Fernando Namora por "Crónica do Tempo" (1991), o Prémio PEN Clube Português (Ficção) e o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco com "Os Sensos Incomuns" (1993).

Quanto a Maria Teresa Horta, há dias condecorada pelo Presidente da República, nasceu a 20 de maio de 1937 e tem uma extensa obra, sobretudo no universo poético, mas não só. De ascendência nobre por parte materna, enquanto o pai foi bastonário da Ordem dos Médicos, Maria Teresa Horta veio a ser, tal como Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, uma voz poderosa do feminismo, tendo estudado na Faculdade de Letras de Lisboa. O jornalismo e a política (militou no PCP durante 14 anos) seriam dois dos seus mundos, estando distribuídos por diferentes jornais e revistas inúmeros exemplos do seu trabalho. Aliás, foi mesmo responsável por um suplemento (Literatura e Arte) no jornal A Capital e dirigiu a revista Mulheres. A estreia na publicação de livros aconteceu com poesia em "Espelho Inicial" (1960), seguindo-se quase três dezenas de outros títulos. No domínio da ficção, além do trabalho em parceria que Inês Henriques aqui traz, escreveu "Ambas as Mãos Sobre o Corpo" (1970), "Ana" (1974), "O Transfer" e "Ema" (1984), "A Paixão Segundo Constança H." (1994), "A Mãe na Literatura Portuguesa" (1999), "As Luzes de Leonor" (2011), "A Dama e o Unicórnio" (2013) e "Meninas" (2014).

Várias vezes galardoada, também não passou por qualquer tipo de hesitação quando considerou que deveria recusar ou tomar posição crítica sobre o caso: rejeitou que o então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, lhe entregasse o Prémio D. Dinis em 2011 e, em 2014, recusou o quarto lugar partilhado com "Simpatia pelo Demónio", do brasileiro Bernardo Carvalho, e a respetiva verba associada, para o seu livro "Ascensões" no Prémio Oceanos. À revista Sábado explicou então que repudiava a situação e enumerou argumentos: "Primeiro, porque não entendo um prémio literário que destaque quatro lugares. Nem conheço nenhum prémio que o faça, nem nacional nem estrangeiro", afirmou. Por outro lado, "Como é que o meu livro pode estar no mesmo lugar, em ex-aequo, que um ensaio? Não se entende. São dois estilos completamente diferentes. A literatura é muito diferente e, tal como não se pode comparar Virgina Woolf com Lev Tolstoi, não se pode comparar ficção a poesia, ou poesia a ensaios", criticou.


A edição original de "Novas Cartas Portuguesas" é da editora Estúdios Cor, mas as Publicações D. Quixote, por exemplo, reeditaram o livro


Natália Correia era a diretora literária dos Estúdios Cor que publicaram a primeira edição da obra. De imediato, a censura determinou a recolha e destruição da obra, foi instaurado processo judicial às autoras, a PIDE interrogou-as, tentando que confessassem quem escrevera cada parte mais "atentatória da moral pública". O processo começou a 25 de outubro de 1973, foi adiado e já não resistiu à Liberdade nascida do 25 de Abril: o juiz que declarou a sua inocência elogiou "a obra de arte" que fora produzida pelas seis mãos.

Inês Henriques tem presença regular aqui no blog e a leitura de hoje foi apresentada em estreia a 24 de maio de 2020. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração. Inês Henriques tem presença regular e já está na casa das dezenas em participações aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa. No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. No passado dia 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques. A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no passado dia 4. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança. A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor". Voltará em breve com mais leituras.

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