Do nascimento num Estado não reconhecido à paixão pela leitura e pela escrita, o percurso de vida de Sandro William Junqueira é multifacetado e inclui a publicação da obra "A Sangrada Família". Hoje, quando este blog chega às 800 leituras partilhadas desde o seu início, em abril de 2020, Inês Henriques escolhe um excerto do livro de Junqueira para propor.
A Rodésia foi um Estado não reconhecido, parte do Império colonialista britânico e que, em 1965, se declarou independente de forma unilateral, usando o apartheid sul-africano como exemplo para o seu modelo de sociedade. Porém, só em 1979, depois de sangrentos confrontos entre fações opostas - as forças do primeiro-ministro Ian Smith contra os movimentos nacionalistas de Robert Mugabe e Joshua Nkomo - e de Smith ter dado lugar ao religioso Abel Muzorewa, foi possível estabelecer uma sociedade democrática. No ano seguinte, o país passou a ser reconhecido no plano internacional sob a designação de Zimbabwe. Porquê esta nota introdutória? Porque foi na então Rodésia, em junho de 1974, na cidade de Umtali, que nasceu Sandro William Junqueira, autor da obra "A Sangrada Família", hoje proposta por Inês Henriques.
Os pais não regressaram ao solo angolano de onde saíram para a Rodésia, mas trouxeram-no para Portugal em 1976. Passaram a viver em Portimão. Antes da atração pelas letras, a primeira paixão foi a música, mas o resultado acabou por ser nulo. A resposta que lhe iluminaria o caminho resultou de uma doença: ter de ficar em casa por causa da varicela, com apenas 11 anos, conduziu-o ao maravilhoso universo das leituras. E ainda ao teatro, no qual vem participando, seja como ator ou encenador. Estreou-se na publicação com "O Caderno do Algoz" (2009), seguindo-se "Um Piano para Cavalos Altos" (2012), "No Céu Não Há Limões" (2014), "A Cantora Deitada" (2015), "A Grande Viagem do Pequeno Mi" (2016), "Quando as Girafas Baixam o Pescoço" (2017) e "As Palavras que Fugiram do Dicionário" (2018).
Sobre o livro "A Sangrada Família", publicado no verão de 2021, o próprio autor confessou, em entrevista ao Diário de Notícias: "O que aqui está são temas recorrentes em todos os meus livros - a luta permanente contra os elementos naturais ou a disputa contra um poder inacessível. Tal como em anteriores livros, tentei também encontrar o outro lado das pessoas, designadamente daqueles que são os proscritos, os que vivem nas margens ou os que nunca têm voz."
À Rádio Renascença contou, em agosto de 2021, que os pavorosos incêndios na Serra de Monchique em 2018 foram "um gatilho emocional" para a escrita do livro. O ponto de partida fora a ideia de escrever para o festival literário "Lavrar o Mar", mas Junqueira esteve no terreno, testemunhou tragédias de quem tudo perdeu para os sinistros fogos e aquilo que seriam histórias para interpretação em destilarias de medronho transformou-se num livro em que realidade e ficção andam de mãos dadas. "Quero que o leitor sinta que ito é a vida", afirmou ao Observador.
Finalista de vários prémios literários, recebeu o Prémio Autores 2019 para Melhor Livro Infanto-Juvenil da Sociedade Portuguesa de Autores com "As Palavras que Fugiram do Dicionário". Como escreve e foi lembrado na entrevista ao Diário de Notícias, "maravilhoso é olhar para onde ninguém olha e ver o que ninguém vê".
Caminho
Os pavorosos incêndios na Serra de Monchique, em 2018, transformaram-se num "gatilho emocional" para a escrita do livro de Sandro William Junqueira.
Inês Henriques tem presença regular aqui no blog e a leitura de hoje foi apresentada em estreia a 24 de maio de 2020. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração. Inês Henriques tem presença regular e já está na casa das dezenas em participações aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa. No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. No passado dia 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques. A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no passado dia 4. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança. A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor" e a 23 aqui recuperei a sua leitura de "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. No Especial do passado 25 de Abril, Inês Henriques apresentou um excerto da obra "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro. A 5 de maio, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, propôs "Manual de Pintura e Caligrafia", de José Saramago.
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