"A Casa do Incesto", publicado em 1936, é a proposta de leitura que Inês Henriques hoje nos apresenta, obra que tem a assinatura da inigualável Anaïs Nin.
Chamaram-lhe Angela Anaïs Juana Antolina Rosa Edelmira Nin y Culmel, mas seria imortalizada apenas como Anaïs Nin. Referir que foi uma mulher muito à frente do seu tempo não é suficiente, mas, aliado à sua personalidade indomável, ajuda a perceber que, nos agitados anos 20, em Paris, tenha sido parceira de ideias, de tertúlias e não só com Artaud, Maurois, Durrel, Rank, Brancusi, June e Henry Miller ("Henry & June", o filme de 1990 que retrata parte desta última convivência com forte carga erótica, tem Maria de Medeiros no papel de Anaïs). Ou seja, parte importante da sua vida foi passada ao lado de livres pensadores que, embora contemporâneos de Anaïs, estavam também muito para lá dos costumes e regras da sociedade em que viviam.
Anaïs nasceu a 21 de fevereiro de 1903 em Paris e a família tinha pergaminhos: o avô materno era um neerlandês que fora cônsul em Havana, o pai, Joaquín, era um consagrado músico cubano, com especial talento para o piano e a composição. A pequena Anaïs tem uma infância marcada por irrequietismo e inúmeras viagens longas, mas, com a I Guerra Mundial a eclodir, o pai afasta-se e a mãe, acompanhada pelos três filhos, volta a Nova Iorque, cidade que conhecia bem, pois fora ali que o seu crescimento conhecera as principais etapas. "Reunited", o livro que abordará o reencontro de pai e filha, é também uma viagem pelo estranho envolvimento que mantiveram entre 1933 e 1940.
É durante essa longa viagem, cumprida de barco, que Anaïs vai descobrir a paixão pela escrita ao desenvolver aquilo que, começando numa carta ao pai, acabará por transformar-se no seu próprio diário. Escreve em francês - só a meio dos anos 20 optará pelo inglês como idioma de expressão escrita -, é uma presença assídua em bibliotecas e dedica-se ao estudo de Belas Artes. De 1923 é o casamento com Hugh Guiler, artista plástico que, sob pseudónimo de Ian Hugo, irá mesmo ilustrar alguns livros da mulher. No ano seguinte, seguem para Paris, onde começa o convívio referido acima e que terá levado Anaïs a ser amante de Miller, da sua mulher e de Rank.
O ensaio "D. H. Lawrence: An Unprofessional Study" (1932) foi a obra de estreia, após recusas de vários manuscritos que apresentou a editoras. "A Casa do Incesto", de que hoje Inês Henriques aqui apresenta um excerto, é de 1936. Com a II Guerra Mundial, volta a deixar Paris e está de novo em Nova Iorque. Aqui, reúne as condições para uma destemida aventura: a abertura de uma editora. "Under a Glass Bell" é de 1944 e dedica- se então à sua série intitulada "Cities of the Interior", na qual se incluem os romances "Ladders to Fire" (1946), "Children of the Albatross" (1947), "The Four-Chambered Heart" (1950), "A Spy in the House of Love" (1954) e "Seduction of the Minotaur" (1958).
Em 1964 publica "Collages" e o seu diário, com o título "Trapeze - The Unexpurgated Diary of Anaïs Nin, 1947–1955", cuja primeira parte é divulgada dois anos mais tarde, é o primeiro momento de maior evidência em território norter-americano, embora a sua obra tenha já reconhecimento no Velho Continente. Continua o trabalho literário e, na sequência de uma encomenda feita por um colecionador desconhecido, escreve histórias eróticas que só serão publicadas após a sua morte, a 14 de janeiro de 1977, em Los Angeles: "Delta of Venus: Erótica" e "Passarinhos" são os livros em causa.
Assírio & Alvim
Maria de Medeiros foi a escolhida para interpretar o papel de Anaïs no filme "Henry & June", de Philip Kaufman, em 1990.
Inês Henriques é presença regular aqui no blog. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração.
Aqui no blog, estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa.
No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. A 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques.
A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no dia 4 de março. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança. A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor" e a 23 aqui recuperei a sua leitura de "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
No Especial dedicado ao 25 de Abril, Inês Henriques apresentou um excerto da obra "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro. A 5 de maio, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, propôs "Manual de Pintura e Caligrafia", de José Saramago. A 6 de junho leu "A Sangrada Família", de Sandro William Junqueira. No dia 1 de agosto, a escolha recaiu no japonês Junichiro Tanizaki com um excerto da obra "A Confissão Impudica". De 10 de outubro é a homenagem à nova Nobel da Literatura, Annie Ernaux, com um excerto do livro "Uma Paixão Simples". A 21 de outubro leu "Para Onde Vão os Guarda-Chuvas", de Afonso Cruz. De 14 de novembro, no Especial Centenário de José Saramago, é a recuperação da sua leitura de um excerto da obra "Manual de Pintura e Caligrafia".
No Especial 1.000 Leituras de dia 23, "A História de Roma", de Joana Bértholo, foi a sua escolha. No dia 28 trouxe um pouco do livro "A Carne", cuja autora é Rosa Montero. O último dia de 2022 mostrou-a a ler um trecho da obra "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar. Voltou a 10 de fevereiro e leu um pouco do livro "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar", de Flannery O'Connor. No dia 14 de fevereiro, a leitura proposta foi "Falha", de Sarah Kane. A 8 de março, no Especial sobre o Dia Internacional da Mulher, leu "Os Anos", de Annie Ernaux. E, a 21, quando aqui surgiu o Especial dedicado ao Dia Mundial da Poesia, cá esteve a ler "What's in a Name", de Ana Luísa Amaral. "A Cerimónia do Adeus", de Simone de Beauvoir, foi a sua proposta de 31 de março. A 26 de abril leu um excerto de "Sopro", de Tiago Rodrigues. De 9 de maio é o regresso de "351 Tisanas", de Ana Hatherly. "Na América, Disse Jonathan", de Gonçalo M. Tavares, voltou a 26 de maio. "A Solidão dos Inconstantes", de Raquel Serejo Martins, foi a proposta de 12 de junho. Camilo Castelo Branco e o seu "Coração, Cabeça e Estômago" voltaram a 26 de junho.
A 30 de junho leu "Garden Party", de Katherine Mansfield. A 5 de julho voltou "Sobre o Amor", de Charles Bukowski. "Karen", de Ana Teresa Pereira, é de 28 de julho. A 7 de agosto chegou "Um Crime Delicado", de Sérgio Sant'Anna. "Neverness", uma vez mais de Ana Teresa Pereira, foi a sugestão de 20 de agosto. Maria Gabriela Llansol foi a autora selecionada para as leituras seguintes: "Cantileno", a 25 de agosto, e "O Sonho é um Grande Escritor", a 1 de setembro. "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice, voltou a 8 de setembro. De 13 de setembro é a sua homenagem no centenário de Natália Correia com a "Poesia Reunida".
Komentarze